EFCB de Tarsila do Amaral

EFCB é um quadro feito por Tarsila do Amaral no ano de 1924. As iniciais do título querem dizer Estrada de Ferro Central do Brasil.

Exemplo do estilo que Tarsila aprimorou ao longo de toda a década de 1920 e 1930, EFCB. é um quadro que une elementos de um Brasil tradicional e popular, as casas em tons coloridos, por exemplo, com marcas da modernidade e urbanização como a própria estrada de ferro.

EFCB faz parte do acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP).


Quadro EFCB de Tarsila do Amaral
E.F.C.B de Tarsila do Amaral. Fonte: Itaucultural.

Origem de EFCB de Tarsila do Amaral

A obra foi feita por ocasião da conferência do poeta e escritor Blaise Cendrars no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Cendrars era amigo e admirador da obra de Tarsila, além de ter feito parte do grupo que, com a pintora, havia visitado as cidades históricas mineiras no mesmo ano de 1924.

A proximidade de Cendrars e Tarsila era grande naqueles anos, uma vez que a pintora se encarregou de fazer para o poeta a capa de seu livro Feuilles de Route, escrito durante sua passagem pelo Brasil. O desenho escolhido por Tarsila foi um muito parecido com seu quadro A Negra, feito poucos anos antes e que lhe rendera os elogios de seu professor Fernand Léger. 

Elementos de EFCB de Tarsila do Amaral

O trabalho com as cores em E.F.C.B. se aproxima daquele mesmo feito em outros quadros da primeira metade da década de 1920. Desde de sua viagem às cidades mineiras como Outro Preto e Sabará, Tarsila havia descoberto o que considerava as verdadeiras tonalidades locais, brasileiras, que se constitui em um elemento original da realidade nacional: 

[…] encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado (…) mas vinguei-me da opressão passando-as para as minhas telas; azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante“.1 

É justamente o azul e o rosa que vemos nas duas casas: o primeiro em uma casa do na parte superior do quadro e o segundo em quatro das pequenas habitações espalhadas pela obra.

Andrea Brandão em sua dissertação intitulada  Desenhos de Tarsila do Amaral: barroco mineiro através do olhar modernista nos remete a alguns quadros de Emílio Rouède onde é possível observar edifícios em Sabará, com suas cores características que seriam as mesmas que Tarsila viu em 1924.

Rua de Sabará feita por Emílio Rouedé em 1894.
Rua de Sabará, em 1894. Fonte: BRANDÃO (1999).

Compondo esse Brasil típico e popular, o observador nota não apenas morros e elevações, mas também a vegetação tropical com coqueiros. Ao fundo, do lado direito, uma igreja branca com duas torres e uma cruz. Por outro lado, Tarsila registra em EFCB a grande mudança que essa paisagem, ainda muito próxima da rural, estava passando no inicio do século XX.

A modernização e seus elementos, marcada pelos postos e pela estrada de ferro, com suas estrutura gradeada e de cor cinza, dominam o primeiro plano do quadro. 

Desenhos de trens e estradas de ferro feitos por Tarsila do Amaral.
Desenhos de locomotivas e estradas de ferro feitos por Tarsila do Amaral. Fonte: BRANDÃO (1999).

A transformação do rural em urbano e a proximidade do trem com relação às casas não demonstra grandes conflitos entre esses dois modos de vidas, duas épocas, diferentes. Pelo contrario, o quadro transparece coesa e harmonia. Nas palavras de Nadjia Gotlieb, autora do livro Tarsila do Amaral: a modernista : 

Essa paisagem sugere barulho e movimento, em objetos acumulados sem perspectiva (…) sinais de transito ferroviário, pontes metálicas, vagões, trilhos espalham-se em horizontais, verticais, diagonais, numa rede, os objetos em matéria lisa sustentam uma intricada rede: cada um funciona, no quadro, como peça de um conjunto coeso, como se fossem partes de um mecanismo que depende, fundamentalmente, desse sistema de relações.2

Esse sistema de relações, para Ângela Brandão, na verdade, deu origem a um paradoxo dentro do modernismo brasileiro – a união do moderno com o tradicional – que se relaciona estreitamente à viagem de Minas Gerais: 

O elogio à modernidade e às transformações urbanas de uma cidade com São Paulo dos anos vinte e a valorização das tendencias da vanguarda internacional talvez coubessem com mais coerência na constituição de personagens chaves do modernismo. Mas o que houve foi ( e a viagem de 1924 é, por isso, um episodio especial ) o estabelecimento de um duplo paradoxo: os olhares modernos arremessaram-se também em busca de um passado e em de um universo brasileiro.3

Localização de E. F. C. B. 

Sabe-se que EFCB foi inscrita no premio da I Bienal de São Paulo ocorrida em 1950. Juntamente com outras duas telas, Fazenda (de 1950) e outra da época pau-brasil, Lago. O trio garantiu o premio para Tarsila e quantia de 50 conto pela qual as obras foram adquiridas.4

A tela de EFCB pertence ao Museu de Arte Contemporânea da USP.5

Foto de Tarsila do Amaral tirada para seu passaporte.
Foto de Tarsila do Amaral tirada para seu passaporte, novembro de 1925. Fonte: perfil do Museu de Luxemburgo.

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Religião Brasileira I de Tarsila do Amaral

A Negra de Tarsila do Amaral

Operários de Tarsila do Amaral

Bibliografia sobre Tarsila do Amaral

Referências

  1. Tarsila do Amaral, apud Sérgio Milliet, “Tarsila do Amaral”, Artistas Brasileiros Contemporâneos, no. 4, Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1953, p. 10.  ↩︎
  2. Gotlib, N. Tarsila do Amaral: a modernista. 2 ed. rev. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2000, p. 116. apudSATURNI, Maria Eugênia. Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral / Catalogue Raisonné. (org.). São Paulo: Base 7 Projetos Culturais; Pinacoteca do Estado, 2008. 3 vol. p.123. ↩︎
  3. BRANDÃO, Angela. Desenhos de Tarsila do Amaral: barroco mineiro através do olhar modernista. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual de Campinas, 1999. p. 131. Disponível aqui. ↩︎
  4. Amaral, A, Tarsila: Sua obra e seu Tempo, 3 ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora 34: Edusp, 2003. p. 392 apud apudSATURNI, Maria Eugênia. Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral / Catalogue Raisonné. (org.). São Paulo: Base 7 Projetos Culturais; Pinacoteca do Estado, 2008. 3 vol. p.123. ↩︎
  5. Nota do quadro no site do MAC-USP ↩︎

Data: 1924
Estilo: Modernismo
Obras anteriores: A Negra
Obras posteriores: Operários
Origem: São Paulo
Autor: Tarsila do Amaral
Dimensão: 142,00 cm x 126,80 cm
Material: Óleo sobre tela
Localização Atual: MAC-USP

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