Frida e Diego (Retrato de Casamento) é um quadro da pintora Frida Kahlo feito em 1931. Frida pintou a obra nos Estados Unidos, lugar em que viveu com o marido por uma temporada logo após seu casamento. Frida e Diego é representativo do estilo que Frida desenvolveria nos anos seguinte e nos dá testemunho da união – em sua faceta feliz – entre dois dos artistas mais conhecidos do México até os dias de hoje.
Frida Kahlo passou para a história da arte não apenas mexicana mas mundial como a pintora dos autorretratos. De suas quase 200 telas, cerca de metade são de autorretratos. O que talvez poucas pessoas saibam é que um certo numero desses quadros foram feitos para serem presentes, que a artista ofereceu para seus conhecidos, amigos e médicos. Retrato de Casamento é um exemplo de autorretrato presente, feito pela artista logo após a sua união com Diego Rivera.
John Zarobell destaca como em Retrato de Casamento foi concebido a partir de uma serie de referencias artísticas tipicamente mexicanas as quais Frida Kahlo se apropriou e adaptou. Presente nessa tela e em muitas outras que pintou, está a tradição da pintura de ex-votos.
Produzidos para se agradecer a algum santo por uma graça alcançada, o quadro ex-voto trazia a situação de emergência do fiel que motivara o pedido bem como a representação do santo na imagem. Na época de Frida, tais pinturas eram encomendadas a artesãos por pessoas de diferentes classes sociais sendo mais comumente encontradas em contextos das camadas populares.1
Além da influencia religiosa, Retrato de Casamento também se atrela à tradição de retrato típica do México do século XIX da qual artistas como José Maria Estrada (1811-1862) e Hermenegildo Bustos (1832-1907) são dois dos maiores exemplos. Feitas para celebrar ocasiões especiais, tais retratos possuem, nas palavras de Zarobell “uma franqueza e imediatez que lhes dão um ar de autenticidade. Retratados e artistas nenhum parentam pretensão“2. Para o pesquisador, é essa tradição de representação que influenciou Frida em muitos de seus trabalhos de 1930 e 1931, Frida Kahlo e Diego Rivera incluso.
A artista contrasta fortemente a sua figura com aquela de seu marido: tanto pela cor das roupas ( ele veste cores neutras e escuras em estilo ocidental, enquanto ela aparece com os trajes brilhantes de tehuana) como da aparência física ( a diferença da de altura, os grandes sapatos de Rivera e os pequeninos calçados de Frida).
A maior diferença entre ambos, porém, está na escolha da pintora de mostrar os atributos professionais de Rivera, com uma paleta e pinceis na mão, enquanto na figura de si mesma eles não aparecem. Com a cabeça inclinada, mão atando o rebozo e a outra dada ao marido, Frida Kahlo aparece com a personificação da felicidade conjugal e paixão amorosa.
Frida e Diego: uma obra em solo americano
Retrato de Casamento é um presente de agradecimento. Albert Bender, colecionador e filantropo, era amigo de Diego Rivera e esteve por trás da obtenção pelo artista mexicano de um visto para os Estados Unidos. Diego era membro do partido comunista mexicano e por isso sua entrada nos Estados Unidos foi dificultosa.3 Com a tela, Frida se mostrou grata pela ajuda e generosidade de Bender ao mesmo tempo que estabeleceu seu hábito de presentear amigos com suas produções. Autorretrato dedicado ao Doutor Eloesser é apenas um exemplo disso.
O casal Frida e Diego passaria ainda alguns anos nos Estados Unidos. Entre as encomendas que recebeu, Diego veria seu mural projetado e iniciado no Rockeffeller Center ser cancelado, e a parte iniciada destruída, a mando de John Rockeffeller, que ficaram insatisfeito com um retrato de Lenin inserido na imagem. Frida experimentaria a vida no país capitalista de maneira diferente, porém não menos politizada. Telas como Autorretrato Na Fronteira dos Estados Unidos e do México bem como Ali Penduro Meu Vestido convergem suas reflexões e criticas à grande potencia econômica e tecnológica.
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Referencias
- ZAROBELL, J. (2008). The Hybrid Sources of Frida Kahlo. Berkeley Review of Latin American Studies, Fall, 22-29. “Frieda Kahlo and Diego Rivera,” 1931 (San Francisco Museum of Modern Art). Aqui. p. 23. ↩︎
- ZAROBELL, J. (2008). The Hybrid Sources of Frida Kahlo. Berkeley Review of Latin American Studies, Fall, 22-29. “Frieda Kahlo and Diego Rivera,” 1931 (San Francisco Museum of Modern Art). Aqui. p. 23. ↩︎
- ZAROBELL, J. (2008). The Hybrid Sources of Frida Kahlo. Berkeley Review of Latin American Studies, Fall, 22-29. “Frieda Kahlo and Diego Rivera,” 1931 (San Francisco Museum of Modern Art). Aqui. p. 23. ↩︎
