A Pequena Esfinge Eremita de Leonor Fini

A Pequena Esfinge Eremita é um quadro da pintora Leonor Fini feito em 1948. A personagem principal da obra é uma esfinge, figura que Leonor Fini adotou como representação de si própria e que aparece em uma serie de outras obras suas tantos antes quanto depois dessa.

Aqui, a esfinge é colocada em uma porta, posição significativa que pode indicar o inicio ou fim de uma jornada. Sabe-se que Fini produziu o presente quadro em um contexto de um problema de saúde e das sequelas do mesmo. A Pequena Esfinge Eremita compõe atualmente o acervo do Tate Museum de Londres. _______________________________________________________________________________

Uma construção em ruínas cujas cores reforçam a atmosfera de velhice, abandono e mofo. A vegetação não encontra qualquer resistência ao seu crescimento e toma o lugar. A pintura e o reboco das paredes se desprendem. Um móvel parecido com uma cadeira é o único objeto no cômodo deserto.

Uma personagem melancólica, misteriosa e delicada se encontra pensativa sob o batente da porta, no limiar entre o dentro e o fora. Sabemos que se trata de uma esfinge, figura que Leonor Fini repetiu em tantos de seus quadros e que, pelo menos em parte, representava a própria pintora, um alter ego, sua visão de si mesma, suas fantasias e aspirações.

A Pequena Esfinge Eremita: alter-ego de Leonor Fini

Em Pequena Esfinge Eremita, podemos ver elementos caros a Leonor Fini. A esfinge, que havia aparecido em A cerimônia (1938), A Pastora de Esfinges (1942) e Esfinge Regina (1946), encarna a própria pintora que chegou a afirmar que, quando criança, queria ser uma esfinge. Aqui, o ser mitológico revela o estado psicológico em que Leonor Fini se encontrou após se submeter a uma cirurgia que a deixou estéril.

Prostrado e enlutado, apequenado, o pequeno monstro tem a sua frente cascas de ovos, que enfatizam o sentimento de infertilidade e morte. Sobre o quadro e o contexto que o inspirou, Leonor Fini relatou ao seu biógrafo Peter Webb: “elas [as cascas] representam a destruição. Não me era mais possível ter filhos. Portanto, eu pensei que os ovos contivessem crianças.”1

A Pequena Esfinge Eremita de Leonor Fini
Pequena Esfinge Eremita. Fonte: Tate

Decepção, talvez até mesmo revolta pela perda de uma possibilidade, de um caminho de vida que Leonor Fini afirmava nunca querer tomar. Em outra entrevista, décadas depois, ela afirmou que pensar em ter filhos a aterrorizava e que sua carreira não poderia ter se desenvolvido caso tivesse tido filhos.2 De maneira privada, em uma carta a Xavière Gauthier, Fini vai mais longe e diz que “a humildade [de se ter filhos] é inconcebível no mundo modernoeEu acho a gravidez física instintivamente repugnante3 .

A Pequena Esfinge Eremita é assim a representação pictórica de tal paradoxo, do lamento pela ausência de algo que nunca se quis. Nesse sentido, a soleira da porta – que seria utilizada por Fini em quadros posteriores como A Escada na Torre (1952) e A Porta do Convento (1955)  – adiciona novas dimensões de sentido, e podem sugerir “o medo do não visto, do desconhecido, do futuro e do destino que ele encerra”.4

A obra foi adquirida pelo Tate Museum de Londres em 2011.

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Referências

  1. GREW, Rachel., 2010. Sphinxes, witches and little girls: reconsidering the female monster in the art of Leonor Fini. In: Nelson, E., Priest, H. and Burcar, J. (eds.) Creating Humanity, Discovering Monstrosity: Myths and Metaphors of Enduring Evil. Oxford: Inter-Disciplinary Press, pp. 97 – 106. p.100  Aqui ↩︎
  2. Entrevista de Leonor Fini para a revista Duoda em 1994. ↩︎
  3. GREW, Rachel., 2010. Sphinxes, witches and little girls.. p.102.  ↩︎
  4. Texto sobre a obra no site do Tate. ↩︎
Data: 1948
Origem: Itália
Autor: Leonor Fini
Dimensão: 41.1 x 24.4 cm
Material: Óleo sobre tela.
Localização Atual: Tate desde 2011

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