O Tempo Voa de Frida Kahlo

Quadro produzido no ano que se casou com o pintor muralista Diego Rivera, O Tempo Voa, é um dos primeiros autorretratos produzidos pela mexicana. Um dos principais estudiosos da obra de Frida, Salomon Grimberg categoriza o quadro como uma natureza morta: estilo de pintura surgido na Idade Média no contexto da Peste Negra.

Os anos de crise e mortandade, teriam chacoalhado a fé de cristãos em todo o continente europeu que: “a experiencia brutal de se assistir a morte e a destruição do corpo colocou a fé na vida eterna em cheque. Uma “dolorosa consciência de se estar morrendo a cada momento” deu origem a modos alternativas de realização na terra por meio de coisas e pessoas, rejeitando a espera por um além de felicidade que pode não existir.1

O Tempo Voa, 1929. Fonte: FridaKahlo.org

Para além os objetos ao lado da figura de Frida aparecem junto ao avião, ao fundo e voado num céu azul. Grimberg se questiona se relógio e aeronave estariam de alguma maneira associadas:

Oito minutos para as três era uma hora especifica que Kahlo queria registrar? Ela usou o relógio e o avião para dizer que o tempo voa?”. Em seguida, o pesquisador aponta para uma resposta, sustentada a partir do próprio título do quadro: “De qualquer modo, ela se refere à transigência: a vida é curta e acaba muito cedo“.2 

Podemos apenas aventar algumas possibilidades que estariam na origem dessa reflexão Frida na pintura. Seu casamento, ocorrido naquele ano, pode tê-la disposta a contemplação da passagem do tempo, do fim da infância e juventude e inicio da vida adulta como mulher casada.

Se lembrarmos que quatro anos antes, Frida havia sofrido o grave acidente de trânsito que a deixaria com sequelas por toda a vida, talvez não seja difícil de imaginar a jovem artista refletindo sobre o quão a vida é frágil e fugaz, inesperada. Pensamentos que não excluem necessariamente as possibilidades positivas já que em poucos anos a garota acidentada saiu da beira da morte para uma vida dedicada à arte ao lado do artistas mais famoso do país como seu companheiro. 

O Tempo Voa e a simbologia asteca

Grimberg não deixou de notar o colar que a figura de Frida usa na pintura tem um símbolo gravado. Tanto ele quanto a pesquisadora Janice Helland notam que se trata de um ideograma asteca, chamado Nahui Ollin, composto por um circulo e uma cruz feita de dois traços cruzados.

Frida Kahlo com um colar contendo o Nahui Ollin, 1929. Fonte: Invaluable

Sobre o mesmo, Janice Helland se detém no símbolo gravado na pedra central. Juntos, os dois símbolos representam o ideograma asteca para “movimento” ou “colocar em movimento” (um início).  Segundo Janice Helland, a cruz também está associada ao deus asteca da morte (ou do sacrifício, chamado Michlantecuhtli, e é frequentemente encontrado em urnas funerárias.3 

Nas palavras da pesquisadora “considerando o interesse de Frida pelo México, com ênfase nos astecas, e a fascinação com o ciclo da vida e da morte, não é surpreendente que a obra combine dois símbolos – o “colocar em movimento” ou inicio com aquele da morte e sacrifício – em um só.4 Nancy Deffebach nota que o símbolo também pode ser encontra na camisa vestida pela figura de Frida Kahlo em Retrato com Macacos (1943).5  A peça, feita em jadeite, uma das pedras mais usadas pelos escultores astecas não apenas em adereços mas também esculturas e vasos. 

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Referências

  1. GRIMBERG, Salomon. Frida Kahlo’s Still Lifes: “I Paint Flowers So They Will Not Die”. Woman’s Art Journal , Autumn, 2004 – Winter, 2005, Vol. 25, No. 2 (Autumn, 2004 – Winter, 2005), pp. 25-30. p. 25.  ↩︎
  2. GRIMBERG, Salomon. Frida Kahlo’s Still Lifes: “I Paint Flowers So They Will Not Die”… p. 25. ↩︎
  3. HELLAND, Janice. Aztec Imagery in Frida Kahlo’s Paintings: Indigenity and Political Commitment. Woman’s Art Journal , Autumn, 1990 – Winter, 1991, Vol. 11, No. 2 (Autumn, 1990 – Winter, 1991), pp. 8-13. Disponível no Jstor. p.9. ↩︎
  4. HELLAND, Janice. Aztec Imagery in Frida Kahlo’s Paintings: Indigenity and Political Commitment. Woman’s Art Journal … p. 9. ↩︎
  5. DEFFEBACH, Nancy. Frida Kahlo: Heroism of Private Life. In: BRUNK, Samuel. FALLAW, Ben. Heroes and Hero Cult in Latin America. Austin: University of Texas Press, 2006. p. 182. ↩︎
Data: 1929
Origem: Cidade do México, México
Autor: Frida Kahlo
Dimensão: Desconhecidas
Material: Desconhecido
Localização Atual: Desconhecida

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