Religião Brasileira de Tarsila do Amaral

Religião Brasileira de Tarsila do Amaral foi pintada em 1927. Concebida no período que ficou conhecido como pau-brasil, a pintura é compostas de figuras compostas em linhas curvas simples e cores vivas que comunicam uma ideia de Brasil celebratória, baseada em simplicidade, leveza, alegria e fé.

Religião Brasileira de Tarsila do Amaral retrata um altar doméstico típico da primeira metade do século XX, quando o catolicismo  – com seu culto aos santos e à virgem Maria que vemos no centro da composição – era a religião predominante no Brasil.

Ao longo de toda a sua carreira, Tarsila do Amaral pintaria quadros representando oratórios, anjos e celebrações sendo Religião Brasileira I uma de suas obras mais famosas do tema.


Quadro Religião Brasileira I de Tarsila do Amaral
Religião Brasileira I, 1927. Fonte: Itaú cultural.

O Contexto de Religião Brasileira de Tarsila do Amaral

Cerca de quatro anos antes da produção de Religião Brasileira I, Tarsila do Amaral partiu em viagem para o interior do Brasil, para o Estado de Minas Gerais. Acompanhada de um grupo de colegas artistas e intelectuais, entre os quais estava o poeta Blaise Cendrars e Oswald de Andrade, Tarsila entrou em contato com a estética barroca das igrejas de Ouro Preto e Sabará bem como com o estilo das habitações mineiras tipicas. Essa experiência estaria na origem de seu estilo Pau-Brasil conforme a própria pintora afirmou: 

“Minha pintura a que chamaram pau-brasil teve sua origem numa viagem a Minas, em 1924 (…) O contato com a terra cheia de tradições, as pinturas das igrejas e das moradias daquelas pequenas cidades essencialmente brasileira – Ouro Preto, Sabará, São João del Rei, Tiradentes, Mariana e outras – despertaram em mim o sentimento de brasilidade”1 

Andrea Brandão, em dissertação sobre o Barroco e a arte de Tarsila, traça uma genealogia entre o desenhos que a paulista fez no interior de Minas e pinturas posteriores, demonstrando o profundo impacto que as visitas às cidades históricas teria no período pau-brasil:

É possível uma identificação imediata entre as meninas mineiras que aparecem na parte inferior do desenho “Tiradentes” e as personagens que reaparecem em obras posteriores em aquarela  e óleo. Embora a aquarela não esteja datada, suas cores e composição são muito próximas dos quadros Religião Brasileira e Religião Brasileira II, de 1927 e 1928, sugerindo uma datação aproximada.”2 

Desenho Tiradentes e aquarela Nossa Senhora de Tarsila do Amaral
Desenho Tiradentes (IEB) e aquarela Nossa Senhora e três meninas (MAC-USP). Fonte: BRANDÃO (1999).

A essência brasileira ocuparia Tarsila durante toda a década de 1920. Antes mesmo da viagem, em sua A Negra, a pintora já havia colocado no centro de um quadro uma personagem que até então não costumava ser retratada pela classes artística brasileira, senão marginalmente, uma mulher negra.

Dali em diante, cidades, paisagens, personagens e mitos brasileiros tomariam conta das telas de Tarsila. O catolicismo e suas manifestações também estiveram presentes. 

Tais escolhem refletem também a própria religiosidade de Tarsila, que era católica. Em entrevista dada a Leo Gilson Ribeiro, em 1972, a ultima antes de seu falecimento, a artista é perguntada se era muito religiosa:

“Ih, sou, sim. Sou muito devota do Menino Jesus de Praga, porque alcancei muitas graças com as orações a ele. É uma novena milagrosa, eu sei tudo de cor: “Oh Jesus que dissestes: Pedi e recebereis, procurai e achareis, batei e a porta se abrirá”, quando eu li isso eu fiquei arrepiada, sabe? de imaginar assim aquela porta se abrindo, se abrindo…”3

Sobre o quadro em si, a pintora chegou a comentar:

“Uma vez fui comprar doces. Bananada. Passando por uma sala vi uma porta bem aberta onde tinha no fundo uma cômoda cheia de santos com uma porção de flores de papel. Uma coisa muito alegre. Fiz um rascunho rápido daquilo e guardei  bem viva a imagem na memoria. Comecei a pintar logo depois e dei o titulo de Religião Brasileira”4 

Amigo e admirador do trabalho de Tarsila, Manuel Bandeira comentou Religião Brasileira em uma de suas crônicas, chamada Tarsila antropofágica:

Não há nada que explicar nas formas, nas cores, na composição do delicioso quadro intitulado Religião Brasileira (1927). Parece que quem viu igrejas, capelinhas, oratórios domésticos de nossa terra deveria sentir a primeira vista o encanto e a poesia daquela pintura. O brasileiro então traz na memoria da meninice a devoção das ladainhas nos serões caseiros, das noites de luzes nas naves festivas”5

Tarsila do Amaral jovem em foto.
Foto de Tarsila do Amaral. Fonte: perfil do Museu de Luxemburgo.

Localização de Religião Brasileira de Tarsila do Amaral

Religião Brasileira I faz parte do acervo dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo e encontra no Palácio Boa Vista, em Campos do Jordão. A obra foi adquirida durante a ditadura militar junto com várias outras de Tarsila, entre elas a também célebre Operários.

Para uma análise profunda da formação desse acervo ver o trabalho de Valter Fernandes Tarsila nos Palácios: o processo de valoração e musealização de sua obra no Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de São Paulo.6

Bibliografia sobre Religião Brasileira I

BRANDÃO, Angela. Desenhos de Tarsila do Amaral: barroco mineiro através do olhar modernista. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual de Campinas, 1999. Aqui.

FERNANDES, Valter A. Tarsila nos Palácios: o processo de valoração e musealização de sua obra no Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de São Paulo. 2023. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia da Universidade de São Paulo. Aqui.

SATURNI, Maria Eugênia. Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral / Catalogue Raisonné. (org.). São Paulo: Base 7 Projetos Culturais; Pinacoteca do Estado, 2008. 3 vol.

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EFCB de Tarsila do Amaral

Bibliografia online sobre a vida e obra de Tarsila do Amaral

Referências

  1. AMARAL, Tarsila. Confissão Geral. Catálogo da Exposição Tarsila 1918-1950. São Paulo, Museu de Arte Moderna, dez. 1950. apud  BRANDÃO, Angela. Desenhos de Tarsila do Amaral: barroco mineiro através do olhar modernista. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual de Campinas, 1999, p.  21. ↩︎
  2. BRANDÃO, Angela. Desenhos de Tarsila do Amaral: barroco mineiro através do olhar modernista. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual de Campinas, 1999, p. 5. ↩︎
  3. Entrevista com Tarsila do Amaral feita por Leo Gilson Ribeiro e disponível no site do jornalista.  ↩︎
  4. AMARAL, Tarsila do. In: Saudades, Caipirinha. 1975, p. 52 ↩︎
  5. BANDEIRA, M. Tarsila antropofágica – Crônicas da província do Brasil. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2006. apud SATURNI, Maria Eugênia. Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral / Catalogue Raisonné. (org.). São Paulo: Base 7 Projetos Culturais; Pinacoteca do Estado, 2008. 3 vol. p. 160. ↩︎
  6. FERNANDES, Valter A. Tarsila nos Palácios: o processo de valoração e musealização de sua obra no Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de São Paulo. 2023. DIssertação (mestrado) – Programa de Pós-Graduação Interunidades em Museologia da Universidade de São Paulo. ↩︎
Data: 1927
Estilo: Modernismo
Origem: São Paulo, Brasil
Autor: Tarsila do Amaral
Dimensão: 63 x 76 cm
Material: Óleo sobre tela
Localização Atual: Palácio da Boa Vista, Campos do Jordão, São Paulo

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