Amanhã é Nunca de Kay Sage

Datada de 1955, essa tela foi produzida após um intervalo de alguns meses após a morte do marido de Kay Sage, Yves Tanguy. Hoje, décadas depois da morte trágica da artista, sabemos que Sage nunca viria a se recuperar do falecimento de companheiro com quem dividiu a casa, o trabalho com e a paixão pela arte. Aqui, em Amanhã é Nunca, pode-se reconhecer o horizonte estendido e nebuloso, típico do surrealismo, combinado com projeções ondulados encarceradas por estruturas parecidas (de madeira?) com andaimes. Os tons são neutros, frios e secos, caros à pintora desde o início da sua carreira na década de 1930. O nevoeiro permeia toda a tela e colabora para a criação de um sentimento de isolamento, solidão e extinção e pode, por sua vez, remeter – conforme a sensibilidade do observador do quadro – a um deserto sentimental, a uma cena pós apocalíptica, ou a um planeta abandonado.

Amanhã é nunca. Fonte: MET Museum.

Em sua autobiografia ainda não publicada, China Eggs , iniciada depois da morte de Tanguy, Kay Sage escreve um parágrafo que pode, de algumas maneira, estar relacionado à Amanha é Nunca ou pelo menos ao profundo luto e pesar pela perda de seu esposo:

Dor não é algo que existe. Na melhor das hipóteses, você pode se distanciar dela. Você pode fazer isso ao tirar a dor de dentro de você mesmo, posicioná-la como um monumento e andar ao redor dela. Eu posso fazer isso porque eu fiz isso. Eu andei por parques inteiros de dor, observando cada monumento como se observaria uma escultura – vendo a forma com suas superfícies pontiagudas ou arredondadas, os planos e os pontos terríveis – mas estando bem distante dela.1 

Atualmente, Amanhã é Nunca compõem o acervo do Metropolitan Museum de Nova Iorque. A tela é uma das últimas de grande porte que Kay Sage iria produzir após 1955. Não apenas o luto em viveu com a morte de Tanguy mas também a progressiva perda da visão, fizeram com que a artista investisse seu tempo na composição de suas memórias e de poemas, bem como na montagem de objetos/esculturas misturando diferentes materiais. No entanto, tais experimentações não tiveram vida longa.  A deterioração de sua saúde e o luto pela morte do marido levaram Kay Sage ao suicídio no ano de 1963.

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Referências

  1. CURTIS, Molly. A Combination in Context: Kay Sage and Surrealism. Dissertação de Mestrado. Universidade da Califórnia. 2018. Aqui. p. 15. ↩︎
Data: 1955
Origem: Estados Unidos
Autor: Kay Sage
Dimensão: 96.2 x 136.8 cm
Material: Óleo sobre tela
Localização Atual: Museu MET

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