Emily Carr foi uma pintora e escritora canadense nascida em 1871. Carr é famosa por suas telas retratando a natureza canadense bem como as áreas habitadas pelas populações indígenas. Ao longo de seus mais de 70 anos, Emily Carr visitou inúmeras comunidades aborígenes, pintando habitações, monumentos locais e totens. Já em suas últimas décadas, a artista passou a escrever sobre suas experiências e com isso conseguiu um reconhecimento e fama que nunca havia alcançado enquanto pintora. Atualmente, as obras de Emil Carr são consideradas representativas do modernismo canadense e fazem parte do acervo de instituições como a National Gallery canadense e Vancouvert Art Gallery. Emily Carr faleceu em 1945.
Nascida em 13 de dezembro de 1871. A segunda filha mais nova de uma família numerosa. Seu pai foi um bem sucedido homem de negócios. Já nos anos 1880 ela começa a ter aulas de desenho. A jovem Emily Carr perdeu a mãe em 1886 e dois anos depois seu pai também morreu. De espírito livre e desbravador, conta-se que Emily Carr gostava de montar a cavalo com a cela usada por homens – em vez daquela reservada às mulheres – o que causava espanto entre os vizinhos e suas irmãs.
Para escapar da criação de sua irmã mais velha, que conseguia ser ainda mais rígida do que aquela que seus pais lhe haviam dado, Emily Carr partiu para São Francisco no outono de 1890. Ali ela estudou arte na California School of Art (atual San Francisco Art Institute) com professores como Amedée Joulin. Emily então retornou para casa em 1893. Logo em seguida começou a dar aula de desenho para crianças. Nessa mesma época a artista viaja pela primeira vez para Ucluelet, reserva indigena a oeste da ilha de Vancouver, empreitada que marcaria para sempre seu estilo.

Emily Carr e sua primeira Viagem para a Europa
Em 1899 ela parte novamente para estudar, dessa vez na Inglaterra. Em sua segunda estadia em Londres, Carr seguiu a recomendação de escolas de suas amigas canadenses: as pintoras Sophie Pemberton e Theresa Wylde, que haviam estudado na ilha.1 Carr escreveu em carta para uma amiga sobre sua primeira visita ao Louvre “ver os quadros que se ouviu falar e se sonhou durante metade de sua própria vida. Eu pensava se iria acordar e descobrir que era um sonho“.2 Mais tarde ela se matriculou na Porthmenor Studio em St. Ives, Cornualha, instituição dirigida por Julius Olsson e seu assistente Algernon Talmage.
Os instrutores eram grandes incentivadores da técnica de pintura ao ar livre, porém Carr teve fortes ataques de enxaqueca ao tentar pintar a luz solar das praias da região. Olson, que assumiu a direção da escola durante um período em que Olsson viajou, permitiu que Carr então pintasse o bosque Tregenna Woods. Suas telas, porém, foram severamente criticadas por Olsson quando de seu retorno. A pintora então decidiu abandonar Porthmenor Studio e ingressar em uma colônia artística em Bushey, no condado de Hertfordshire. Ali, Carr não seguiu exatamente os ensinamentos do fundador Hubert von Herkomer e se aproximou do Meadows Studios. Ali ela foi instruída por John Whiteley e continuou a pintar ao ar livre.3
O afastamento da terra natal, as diferenças culturais e o isolamento não tornaram sua estadia proveitosa e a artista acabou tendo que se internar em uma instituição de cuidados mentais por mais de um ano para se recuperar. Em 1904 ela retornou ao Canadá, mas não sem antes visitar Toronto e Cariboo, lugares cujas paisagens e belezas naturais lhe fascinaram. Sua exploração por regiões remotas do próprio país continuaria e ela então viajou para Sitka, no Alasca, Yukon e também Alert Bay, ao mesmo tempo em que desenhava totens e outras manifestações culturais nativas. Ali ela também conheceu o pintor americano Theodore J. Richardson que também pintou os mastros e paisagens locais.4
Em 1910, Emily partiu para Paris junto com sua irmã Alice. Esse era um desejo que nutria desde os anos que passara em Londres. Na capital francesa, ela estudou na Académie Colorossi. Na França, Emily passou ao menos um mês internada novamente após ter viajado para a Suécia em uma tentativa de descansar. De volta a Paris, sua saúde mental continuou a castigá-la.
Carr porém ainda conseguiu estudar sob a orientação de Francês Hodgkins e expôs no Salón de Outono daquele ano. Ela retornaria para o Canadá no ano seguinte. Foi nesse período na cidade-luz que mais influenciou o trabalho maduro de Emily Car. Isso graças ao seu contato com as várias tendências e estilos que se desenvolviam na época como o Fauvismo, Pós Impressionismo, Expressionismo e mesmo Cubismo.
Ali ela se matriculou na Académie Colarossi, seguindo recomendação do artista inglês Harry Phelan Gibb. Logo em seguida, porém, ela preferiu estudar com o artista escoces John Duncan Fergusson. A vida na capital agitada, porém, a obrigou a se retirar para uma instituição na Suécia por vários meses. Carr retornou à França, mas não à capital, sendo instruída primeiro por Gibb mais uma vez e depois pelo artista neozelandês Frances Hodgkins. Harry Gibb encorajou o trabalho de Carr e a pintora comentou sobre o colega e professor: “havia uma suculência rica e deliciosa em sua cor, uma interação entre tons quentes e frios […] Ele intensificava a nitidez por meio do uso de cores complementares“.5
Em janeiro de 1912, a pintora abriu um estúdio próprio em Vancouver. Sua primeira exposição, no entanto, foi um fracasso. Em 1913, Carr e as irmãs tiveram que lidar com a divisão da propriedade da família. Com a parte que lhe correspondeu, Carr construiu casas para alugar além de um pequeno estúdio. Os anos seguintes foram de estagnação artísticas, já que a artista empenhou a maior parte do tempo lidando com seus inquilinos e imóveis. O começo da Primeira Guerra Mundial trouxe dificuldades econômicas ainda maiores. Emily Carr se sustentava também com a venda de galinhas e frutas.
Entre 1924 e 1925, ela participou da exposição coletiva dos Artists of the Pacific Northwest em Seattle. Em 1927, ela integrou outra exposição, a Canadian West Coast Artists em Otawa. Nesse mesmo ano ela tem os primeiros contatos com o Canadian Art Movement que ficou conhecido como Grupo dos Sete. Seu contato com eles ajuda-a a desenvolver o estilo de sua fase madura. A pintora registrou em seu diário a forte impressão que o trabalho do grupo lhe causou, com destaque para a obra do pintor Lawren Harris:
“Esses homens são muito interessantes e grandes e inspiradores, tão diferentes dos pintorzinhos tolos cheios de desprezo que se costuma encontrar… Eu sei que eles estão construindo uma arte digna de nosso grande país, e eu quero ter minha parte, dar uma pequena contribuição pelo Oeste, uma mulher fazendo sua parte…. Eu estou muito atrás dele no que se refere a desenho e composição e ritmo e planos, mas eu sei dentro de mim o que eles estão buscando e eu sinto que talvez, se me for dada a chance, eu poderia conseguir também. Ah, como eu desperdicei anos.“6
Carr passou o resto de sua estadia na costa leste em visitas ao estúdio de Harris, de quem ela apreciava os “grandes espaços tranquilos repletos de luz e serenidade”7, e uma vez finda a viagem, os artistas passaram anos trocando correspondências.8
Seu contato com os artistas na costa Oeste teve um grande impacto em sua vida e carreira. Emily Carr decidiu não mais desperdiçar o próprio tempo e se dedicar integralmente à arte. Em 1928, a Galeria Nacional comprou 3 aquarelas suas. Nos três anos seguintes, ela viajou pelo norte, por vilas indígenas.
A década de 30 foi marcada por diferentes exposições, entre elas uma em Detroit na Women ‘s International Exposition. Sua arte, concentrada em temas da cultura indigena, foi mais e mais se baseando em paisagens como bosques e praias. Em 1933 ela comprou o Elefante, um motorhome com o qual viajou pelas províncias interioranas do Canadá.
Sabe-se que, ao menos inicialmente, Carr tinha a expectativa de que o governo canadense demonstrasse interesse por suas obras enquanto registros de povos e culturas que estavam desaparecendo rapidamente devido ao avanço industrial e colonial. Para sua grande tristeza e desapontamento, nada parecido jamais aconteceu.
Produção escrita e Reconhecimento
Em 1936 vendeu suas casas de aluguel e comprou uma pequena casa em Victoria. Em 1937, ela sofreu o primeiro de três ataques cardíacos. Emily então decidiu se dedicar a outra forma de criação que já vinha empreendendo na última década: a escrita.
Em 1940 um amigo de Emily Carr, Ira Dilworth leu alguns textos de artistas na estação de rádio CBC. Seus contos tinham até então sido rejeitados por diferentes editoras, mas o sucesso da transmissão alçou o nome da artista à fama em todo o Canadá. Klee Wyck ganhou o Governor General Award e abriu caminho para que mais cinco fossem publicados. Em comum, seus livros trazem o forte traço autobiográfico.9
Em 1944 ocorreu sua primeira exposição na célebre Dominion Gallery e Emily Carr alcançou um sucesso inédito em sua carreira. Ela, no entanto, faleceu menos de um ano depois, em fevereiro de 1945, em um asilo de freiras.
Referências
- Texto de Lisa Baldissera intitulado Style and Technique para o portal Art Canada Institute. Aqui. ↩︎
- Texto de Lisa Baldissera intitulado Style and Technique para o portal Art Canada Institute. Aqui. ↩︎
- Texto de Lisa Baldissera intitulado Style and Technique para o portal Art Canada Institute. Aqui. ↩︎
- Texto de Lisa Baldissera intitulado Style and Technique para o portal Art Canada Institute. Aqui. ↩︎
- Texto de Lisa Baldissera intitulado Style and Technique para o portal Art Canada Institute. Aqui. ↩︎
- MACKENZIE, L. I. Emily Carr: An Artist’s Evolution, Jung Journal, 2019. 13:3, 119-134, DOI: 10.1080/19342039.2019.1637187. p. 126. ↩︎
- MACKENZIE, L. I. Emily Carr: An Artist’s Evolution, Jung Journal, 2019. 13:3, 119-134, DOI: 10.1080/19342039.2019.1637187. p. 127. ↩︎
- MACKENZIE, L. I. Emily Carr: An Artist’s Evolution, Jung Journal, 2019. 13:3, 119-134, DOI: 10.1080/19342039.2019.1637187. p. 127. ↩︎
- ZALCE, Graviela Martínez. Lazos Artísticos: Emily Carr y Frida Kahlo. Scotiabank Inverlat. 2003. p. 31. ↩︎