O Mais Claro do Tempo II é uma obra do pintor surrealista Óscar Domínguez pintada em 1943. A coleção de borboletas, os diferentes relógios bem como o plano de fundo com padrões geométricos são marcas do pintor espanhol, que foi membro ativo do grupo surrealista e conviveu com artistas como Max Ernst, Remedios Varo e Salvador Dali.
Entre os elementos figurativos de O Mais Claro do Tempo II está a coleção de borboletas. Presente em outros quadros de Domínguez, a coleção faz referência ao hábito do pai do pintor, António Andrés Domínguez, de colecionar tais insetos. Sua inserção sugere não apenas saudades da figura paterna, mas também um senso maior de nostalgia. Óscar Domínguez era natural de Tenerife, Espanha, mas deixara a terra natal em busca de uma carreira na capital francesa assim como outros artistas espanhóis seus colegas ou conhecidos: Salvador Dali, a quem admirava, Juan Miró, Esteban Francés e Remedios Varo.

O plano de fundo de O Mais Claro é preenchido por padrões geométricos, os quais também podem ser vistos em outras obras de Domínguez, como Nostalgia do Espaço de 1939. Segundo a nota da Sotheby’s sobre a obra: “confinada ao plano de fundo [a rede de prismas em expansão], conferem à pintura uma energia dinâmica enquanto destaca a importância da natureza-morta no centro da composição. A proliferação de estruturas parecidas com redes ecoa o uso que Picasso fazia, nessa época, de elementos rigorosamente lineares ao fundo.“1
Inspirações para O Mais Claro do Tempo II
Para além de Picasso, a perspectiva dentro de um ambiente fechado, um quarto ou sala, em conjunto com a retratação de objetos, é uma clara inspiração no trabalho de Giorgio de Chirico em sua fase metafísica: “Objetos… aparecem no meio de paisagens desoladas e solitárias cujo artificio perspectivo, rigorosamente estabelecido, acentua o efeito de não-percepção, a luz crepuscular concorre para a estranheza da composição… O fôlego metafísico nunca esteve tão ativo na obra de Domínguez.“2
Se o quadro pode ser considerado uma natureza-morta (ou mesmo uma vanitas reatualizada) objetos como os relógios devem ser considerados dentro da visão do grupo surrealista que Domínguez fazia parte. Segundo o pintor, crítico de arte e amigo de Dominguez, Eduardo Westerdahl, os objetos na obra do espanhol são polissêmicos e dinâmicos: “Ele [Óscar Domínguez] acreditava que esses objetos não estavam limitados a um único significado. Nem estavam amarrados a seus destinos. Eles eram, pelo contrário, corpos mutáveis dotados de vitalidade, coisas transitórias, consequências de impulsos misteriosos, chocantes e inventivos.”3
O ano de produção de O Mais Claro do Tempo II também chama atenção. Em 1943, com Paris ocupada pelos nazistas, grande parte dos colegas de Óscar Domínguez havia se exilado, principalmente nos Estados Unidos e México. E os membros que permaneceram na Europa em guerra viviam na apreensão e angústia mas também na expectativa do fim do conflito, conforme Emmanuel Guigon: “O Mais Claro do Nosso Tempo, ou seja, dos dias da ocupação, é ‘o espaço limitado’, a esperança e a espera …. espera do dia em que cada um encontrará seu ‘elemento bom‘”4
O Mais Claro do Tempo II foi leiloado pela casa Sotheby’s e arrematado por mais de 700.000 dólares em uma noite de leilões de 2023.5 A casa, assim como a Christie’s, já havia leiloado outras obras do espanhol. Entre elas não apenas pinturas mas também uma serie desenhos, diferentes gravuras e ilustrações.
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Referências
- Nota sobre o quadro no site da Sotheby’s. ↩︎
- GUIGON, Emmanuel. O. Domínguez: Óscar Domínguez, Santa Cruz de Tenerife, 1996, p.103-104. ↩︎
- Eduardo Westerdahl, Óscar Domínguez, 1968, Barcelona, pp. 50-51. ↩︎
- GUIGON, Emmanuel. O. Domínguez: Óscar Domínguez, Santa Cruz de Tenerife, 1996, p. 106. ↩︎
- Nota sobre o quadro no site da Sotheby’s. ↩︎