Verão de Leonora Carrington

A obra Verão de Leonora Carrington foi feita em 1942, durante o curto período em que a artista viveu nos Estados Unidos após fugir da Europa mergulhada na Segunda Guerra. O quadro trás características do estilo que a artista desenvolveria no México ao longos das décadas que ali viveu, como a profusão de figuras mais ou menos fantásticas, planos de fundo paisagísticos e a utilização texturizada das cores.

Atualmente Verão de Leonora Carrignton faz parte do acervo do Museu de Arte de Tel Aviv


Cerca de um ano depois da prisão de seu então companheiro, Max Ernst, sua fuga da França invadida pelos nazistas, sua entrada na Espanha e, por fim, o período de 4 meses de internação em uma instituição psiquiátrica, Leonora Carrington se viu mais ou menos restabelecida em Nova Iorque.

Tendo se mudado para a grande metrópole após um casamento de mais ou menos conveniência com Le Duc e deixado para trás a Europa em guerra, bem como a babá que seus pais haviam enviado para a Espanha com instruções para que internasse Leonora em outro hospital para doentes mentais, na África do Sul, a jovem pintora se viu em um país totalmente novo e cercada por artistas com os quais compartilhava ideias e estilo.

No outono de 1941, Leonora Carrington já havia se instalado em um pequeno estúdio e voltara a pintar. Foi num dia desses que Leonora recebeu a visita das irmãs Rubinstein, Helena (a futura fundadora da famosa empresa de cosméticos) e Manka.  Helena comprou uma pintura que trazia, segundo Salomon Grimberg, cinco cachorros pretos embaixo de uma árvore na qual encontra-se um animal branco. Manka por sua vez encomendou para Leonora um trabalho totalmente novo. 

Obra Verão de Leonora Carrington
Verão (1942) de Leonora Carrington com a cooperação de Max Ernst, Duchamp e Roberto Matta. Fonte: Norris Gallery

O esposo de Leonora na época, Renato Leduc, era de origem mexicano e trabalhava para a embaixada de seu país. A isso se deve, em grande parte, a facilidade com que ele conseguiu sair – e Leonora consigo – da Europa tomada pela guerra. Em 1941, o casal já aventava a possibilidade de se mudarem e permanecerem no México. Ao saber disso, Helena Rubistein comentou de sua ida ao país latino e as visitas que empreendeu aos estúdios de vários artistas mexicanos. Grimberg nos dá conta que Helena esteve prestes a comprar uma aquarela de Diego Rivera mas acabou por comprar uma natureza morta da ainda pouco conhecida Frida Kahlo.

A Produção de Verão de Leonora Carrington: Marc Chagall e obra feita em lençol

Na ocasião Helena ainda adquiriu pinturas de Olga Costa e Miguel Covarrubias e posou para um retrato executado por Roberto Montenegro. Leonora não poderia ter qualquer conhecimento desses nomes: apenas anos depois, vivendo no México, é que a inglesa se tornaria amiga, por exemplo, de Frida Kahlo

Em seu pequeno estúdio em Nova Iorque, porém, Leonora se viu às voltas com um novo problema. A encomenda de Manka, que a pintora e sua cliente haviam acertado em 200 dólares, não tinha onde tomar forma. Leonora não dispunha de nenhuma tela que fosse grande o suficiente para o gosto de Manka, que pediu um quadro extenso no tamanho de um mural. Sem dinheiro, cercada de artistas recém fugidos da guerra, ninguém dispunha de uma tela ou de dinheiro para comprar uma. Leonora então resolveu pedir um empréstimo para o único artistas dentro da comunidade de refugiados que dispunha de algum reconhecimento e capital: Marc Chagall. 

O pintor, por sua vez, resolveu ir até o estúdio de Leonora e analisar suas pinturas. Pouco impressionado, até mesmo decepcionado, o artista decidiu por não fazer o empréstimo e teria dito “continue pintando, pequenina, continue”, indicando que Leonora ainda não era boa o suficiente. Coube a André Breton salvar o dia: o líder do movimento surrealista deu para a jovem artista um de seus lençóis e Leonora se pôs a trabalhar e coordenar seus ajudantes: Max Ernst (que pintou seu animal-símbolo, o pássaro Lop-lop, no canto superior esquerdo), Duchamp e Roberto Matta. Manka Rubinstein adorou a tela. 

Verão de Leonora Carrington, assim como grande parte da coleção das irmãs Rubinstein, foi doada para o Museu de Arte de Tel Aviv, onde se encontra atualmente.

Referencias

Todas as informações contidas aqui foram tiradas do artigo de Salomon Grimberg: 

GRIMBERG, Salomon. Traveling Toward the Unknown: Leonora Carrington Stopped in New York. Woman’s Art Journal, Vol. 38, No. 2 (Fall/Winter 2017), pp. 3-15. p. 9.

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Data: 1942
Origem: Nova York, Estados Unidos
Autor: Leonora Carrington
Material: Óleo
Localização Atual: Museu de Arte de Tel Aviv

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