Depois dos indiscutivelmente famosos auto retratos, o gênero que Frida Kahlo mais pintou ao longo de sua carreira foi natureza morta: cerca de um terço de suas pinturas traz frutas de todos os tipos dispostas das mais diversas maneiras além de uma variedade de plantas e flores, dispostas sozinhas ou acompanhando frutos. Xochitl, de 1938, é exemplo desse tipo de produção da artista além de trazer referencias à cultura indígena mexicana antiga.
Segundo Salomon Grimberg, estudioso da vida e obra de Frida Kahlo, Xochitl é a fusão de duas partes opostas mas bem integradas: uma vermelha, que seria uma vagina em forma de sino e de um pênis, similar em cor, mas que viria de cima, completando-o.1 Grimberg em seu artigo sobre as naturezas mortas de Frida traça a origem do quadro a uma passagem do Codex Mendoza.
Nele uma das imagens traz a inscrição Acaxochitla, termo em Nahuatl composto de outros três: aca (que significa junco), xochitl (flor) e tla (abundancia). A partir tem-se ” lugar onde abundam flores e juncos“. A ilustração Acaxochitla aparece ao lado da narrativa que conta o mito asteca de origem das flores.

Segundo a crença nativa, um morcego emergiu do sêmen do deus Quetzalcoatl (Serpente Emplumada) e teria em seguida tomado uma parte dos órgãos genitais da deusa do amor chamada Xochitl e partir disso as flores teriam surgido.2
O autor prossegue e afirma que Xochitl foi pintado no auge do relacionamento de Frida Kahlo com o fotógrafo Nicolas Murray. A artista chegou a assinar como Xochitl parte da correspondência que trocou com o amante.3
Seguindo ou não a interpretação fortemente sexuais de Grimberg e do mito indigena, Xochitl é representativo do apreço nutrido por Frida Kahlo pela tradição asteca e seu gosto pelo gênero. Frida continuou desenvolvendo o tema das flores nos anos seguinte e chegaria a desenvolver Flor da Vida, com implicações sexuais, reprodutivas e, segundo alguns, feministas ainda mais fortes e explicitas. Um pouco mais de uma década depois, em 1953, a pintora produziria seu ultimo quadro, uma natureza morta com melancias e a frase Viva la Vida.
Artigos Relacionados
Referências
- GRIMBERG, Salomon. Frida Kahlo’s Still Lifes: “I Paint Flowers So They Will Not Die”. Woman’s Art Journal , Autumn, 2004 – Winter, 2005, Vol. 25, No. 2 (Autumn, 2004 – Winter, 2005), pp. 25-30. p. 27. ↩︎
- GRIMBERG, Salomon. Frida Kahlo’s Still Lifes: “I Paint Flowers So They Will Not Die”… p. 27. ↩︎
- GRIMBERG, Salomon. Frida Kahlo’s Still Lifes: “I Paint Flowers So They Will Not Die”… p. 27. ↩︎