4 obras para se entender María Izquierdo

Para se entender Maria Izquierdo, pintora mexicana nascida em 1902, é necessário olhar para o seu lugar na arte de seu país e sua época. Uma das poucas mulheres artistas da primeira metade do século XX, Maria Izquierdo se afastou do tom nacionalista e celebratório do muralista Diego Rivera e desenvolveu um estilo que privilegiava personagens socialmente marginalizados, como mulheres e artistas circenses. Sua paleta de cores é sóbria e terrosa. Veja abaixo 4 quadros que vão te ajudar a entender mais sobre sua vida e obra.

Maria Izquierdo. Fonte: Sotheby’s.

Alegoria da Liberdade, 1937: o outro lado da Revolução Mexicana

Feita quase duas décadas depois do fim da Revolução Mexicana, Alegoria da Liberdade retrata o lado trágico e tenebroso daquele evento histórico: as milhares de vidas humanas perdidas. Calcula-se atualmente que mais de um milhão de pessoas tenham morrido durante os 12 anos de conflito. Maria Izquierdo pinta a liberdade como um anjo levando, em uma das mãos, cabeças consigo num céu noturno e, na outra, uma tocha acesa. Imagens religiosas (e mesmo bíblicas) de expiação e sacrifício podem ter sido referências para a artista. 

Quadro Alegoria da Liberdade significativa para se entender Maria Izquierdo e sua obra
Alegoria da Liberdade, 1937. Fonte: Google Arts

Para se entender Maria Izquierdo é necessário destacarmos sua diferença em comparação com seu colega e professor Diego Rivera. Em 1937, Rivera era o pintor mais famoso do México e o artista mexicano mais famoso internacionalmente. Seus murais, em geral, exaltam não apenas o povo mexicano mas sobretudo a revolução, retratada em seu aspecto de glória e vitória indígena e popular.

Coube a outro pintor muralista, Clemente Orozco, a retratação por vezes crua da destruição, dos deslocamentos, dos massacres, perseguições e violências ocorridas durante a revolução. Maria Izquierdo compartilha de tal visão porém com foco no sofrimento e vitimização de mulheres durante esse processo. Seu quadro Consolação assim como muitos outros repetem e desenvolvem tais temas. 

Mulher diante do Espellho de 1937 quadro para se entender Maria Izquierdo enquanto feminista

Em uma época na qual o lugar reservado às mulheres no mundo das artes era o de simples modelo ou musa, Maria Izquierda subverteu em diversos pontos o tema do nu feminino. Seu Mulher diante do Espelho traz uma figura feminina dando as costas para o público ao mesmo tempo em que se encara no espelho. O objeto, muito próximo do rosto da figura, frustra as expectativas do observador: não sabemos a identidade da pessoa que se encara fixamente com o objeto em mãos, sob seu controle. 

Mulher diante do Espelho, 1937. Fonte: Christie’s

Autoconhecimento, anti voyeurismo, a negação da satisfação do olhar (masculino?) são apenas algumas das sugestões que Mulher diante do Espelho traz. O manequim ao lado da figura feminina contrasta e destaca a diferença entre ambos, seja na postura, mobilidade x imobilidade, cor e disposição.

María Izquierdo retratou mulheres ao longo de toda a sua carreira, de maneiras diferentes daquelas mais comuns em seu tempo. Os diversos retratos femininos podem nos ajudar a entender Maria Izquierdo enquanto artista. Considerando os problemas que enfrentou, principalmente como aluna da Escuela Nacional de Belas Artes, Izquierdo declarou: “Naquela época era um delito nascer mulher, e se a mulher tivesse habilidades artísticas, era muito pior”. 

A Primavera, 1943

Natural de Jalisco, Maria Izquierdo se mudou para a capital do México depois que se casou, ainda na adolescência. Foi ali que a artista decidiu iniciar sua carreira, se divorciou e passou a frequentar a Escuela Nacional. Ser uma mãe divorciada e artista nos anos 1920 fugia muito às expectativas da sociedade mexicana para as mulheres.

O registro que Maria Izquierdo fez em suas telas de, por exemplo, artistas circenses em alguma medida reflete seu apreço e reconhecimento de mulheres artistas as quais, como ela própria, se dedicavam à arte a despeito de papéis de gênero. Em 1930, Izquierdo se tornou a primeira artista mexicana a ter seu trabalho exibido em uma exposição solo em Nova Iorque e, nos anos seguintes, sua obra apareceria em instituições como o MET e o MoMA.

Primavera, 1943. Fonte: Sotheby’s

Grande parte de suas telas de tema religioso seguem o mesmo padrão de destaque para mulheres, privilegiando a figura de Maria enquanto mãe, quase sempre com os traços étnicos próximos àqueles da maioria da população mexicana. Maria Izquierdo também pintou diversas vezes as chamadas ofrendas, altares montados, quase sempre por mulheres, no Dia dos Mortos.

A artista era profundamente religiosa e cultivou sua fé por toda a sua vida. Para se entender Maria Izquierdo é necessário conciliar seu desejo por uma carreira fora do lar e status de mulher divorciada com sua devoção e crenças católicas. Quando a artista sofreu o primeiro dos derrames, ela acabou perdendo os movimentos de um dos lados do corpo. Após uma gradativa recuperação, a primeira tela que pintou foi uma Nossa Senhora das Dores. 

Sonho e Pressentimento, 1947

Produzido em 1947, Sonho e Pressentimento é uma das obras mais conhecidas de Maria Izquierdo. Nele vemos a própria Maria Izquierdo suspendendo uma cópia de sua própria cabeça. O cabelo longo se embaraça, ao fundo, nos troncos de árvores arrancadas. A cabeça suspensa chora e as lágrimas se transformam em folhas que caem sobre uma cruz.  Seu uso de cores sombrias, perspectiva e o tema da decapitação, rendeu ao quadro o adjetivo de surrealista. 

Sonho e Pressentimento, 1947. Fonte: Sotheby’s

De fato, telas de Izquierdo haviam sido expostas em Paris em uma exibição organizada pelo poeta surrealista Antonin Artaud, cerca de 10 anos antes. A pintora, porém, rejeitou o rótulo de surrealista. Sonho e Pressentimento é o único quadro que Izquierdo afirma ter sido realmente baseado em um sonho. O título se deve ao fato de que, à época, muitos acreditaram que o quadro fora um presságio dos derrames cerebrais que Izquierdo sofreria e que acabariam por lhe levar à morte. 

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Maria Izquierdo

Diego Rivera

Frida Kahlo

Nascimento: 1902
Falecimento: 1955
Origem: Mexicana
Ocupação: Pintora
Principais obras: Alegoria da Liberdade, Mulher diante do Espelho, Primavera, Sonho e Pressentimento

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