A Inquilina de Wildfell Hall de Anne Brontë

A inquilina de Wildfell Hall é um livro escrito por Anne Brontë lançado em junho de 1848. Irmã mais nova da célebre família de escritores, Anne traz – nesse que foi seu segundo livro – um retrato minucioso e brutalmente realista do cotidiano de um casamento infeliz e violento. Por tratar de um assunto considerado tabu, A Inquilina foi recebido de forma fria pela crítica e público de seu tempo. Isso contribuiu para que das três irmãs escritoras, Anne fosse considerada a menos famosa ou “a esquecida”. 

O Contexto da escrita de A Inquilina de Wildfell Hall

Anne Brontë, como o próprio sobrenome nos diz, era uma das filhas (a caçula) da família Brontë, mundialmente famosa na atualidade por ter produzido outras duas escritoras consagradas: Emily Brontë – autora de O morro dos ventos uivantes – e Charlote Brontë escritora de Jane Eyre. Considerada a menos célebre das irmãs, o que rendeu a alcunha de “a Brontë esquecida” – Anne escreveu além de A inquilina de Wildfell Hall o romance Agnes Grey. Em uma época que a escrita era tida como uma atividade reservada aos homens, Anne, assim como suas irmãs, publicou suas obras sob um pseudônimo masculino, Acton Bell. 

Autorretrato de Elisabeth Nourse usado como ilustração para A Inquilina de Wildfell Hall
Autorretrato de Elisabeth Nourse, 1892. Fonte: wikipedia

Enredo de A Inquilina de Wildfell Hall

A inquilina de Wildfell Hall trata do trágico relacionamento – noivado e casamento – e posterior fuga da protagonista, Hellen Huntingdon. Ainda jovem, Hellen Graham se apaixona ardentemente por Arthur Huntingdon. Apesar de ser alertada pela tia que a criava da má reputação do cavalheiro – viciado em álcool, jogos e saídas – Hellen defende a futura aliança entre os dois e se diz convencida de que, uma vez casado com ela, o então pretendente se regeneraria. 

O romance pode ser dividido em três partes principais: a chegada da senhora Graham e seu filho pequeno na propriedade de Wildfell Hall,  que desperta a curiosidade da vizinhança; a leitura de seu diário por Gilbert Markham pela qual descobrimos os terríveis anos de casamento passados pela senhora e, por fim, o desfecho da trama, que nos diz não somente o destino dela e de seu marido, como o fim da maior parte dos personagens secundários. 

Edição de 1848 de A Inquilina de Wildfell Hall de Anne Brönte
Edição de 1848 de A Inquilina de Wildfell Hall. Fonte: Sotheby’s.

Recepção e crítica de A Inquilina de Wildfell Hall

Por colocar no centro da narrativa temas tabu como o vício em álcool e jogos, diferentes tipos de violência contra a mulher, adultério, infidelidade conjugal, divórcio e corrupção de menores, o romance foi recebido de maneira negativa e indignada. Segundo estudo de Denise Simino, adjetivos como “grosseiro“, “brutal” e “revoltante” foram alguns dos recebidos pelo romance por diversas publicações contemporâneas.1 

Pontos como o gradual amadurecimento da personagem, suas camadas emocionais, a cuidadosa e detalhada  descrição da rotina de um  relacionamento abusivo, a fé como suporte psicológico para o indivíduo também foram destacadas quando do lançamento da obra. E. P. Whippe, ensaísta e crítico norte americano contemporâneo, se expressa nos seguintes termos:

“os personagens são desenhados com grande poder e precisão, e as cenas são tão vívidas quanto a própria vida”. Charles Kingsley escreve por sua vez para a Fraser Magazine  que esse “é um livro doloroso”.  

Anne Brontë não chegou a ver o sucesso de sua obra. Vítima de tuberculose, a escritora morreu em 28 de maio de 1849 aos 29 anos de idade. Tal tragédia ocorreu apenas cerca de 6 meses após o falecimento de Emily Brontë, sua irmã mais velha. A responsabilidade da administração das obras deixadas pelas irmãs passou, então, para as mãos da irmã do meio, Charlotte.

Aparentemente, Charlotte procurou se desvencilhar de qualquer relação com o polêmico romance da caçula. Acredita-se que tal sentimento esteja por trás, em alguma medida, de sua decisão de revelar sua identidade bem como as suas irmãs, além de esclarecer definitivamente a autoria de cada obra lançada até então. Sobre o assunto, Charlotte ela mesma nos dá conta:

 “Wildfell Hall’, quase não me parece desejável preservar. A escolha do assunto nesse trabalho é um erro – foi muito pouco consonante com o personagem – gostos e ideias de um escritor gentil, reservado e inexperiente. Ela escreveu isso sob uma noção estranha, consciente e meio ascética de realizar uma penitência dolorosa e um dever severo. Inocente em ação e quase em pensamento – houve de sua própria infância um matiz de melancolia religiosa em sua mente – o que eu já suspeitei – e encontrei, entre seus papéis, provas dolorosas de que tal era o caso.”2

Dado tais sentimentos, a decisão final de Charlotte de não autorizar qualquer outra edição de A inquilina de Wildfell Hall é pouco surpreendente. Dessa forma, é possível compreender o que levou Anne Brönte –  e consequentemente sua obra – a ser a irmã menos conhecida e lembrada de toda a família Brönte.

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Bibliografia de A Inquilina de Wildfell Hall

Barbosa, Ana Paula HerculanoProtofeminismo em The tenant of Wildfell Hall, de Anne Brontë. Revista ENLIJE. Universidade Federal de Campina Grande. Aqui

CAMPANA, Crislaine Aline. A irmã silenciosa: Anne Brontë e a escrita de autoria feminina na Inglaterra do início do século XIX. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 2017. No perfil academia.edu da autora. 

COSTA, Cindy Conceição Oliveira. O Bildungsroman feminino do século XIX em A senhora de Wildfell Hall e Jane Eyre. Anais do II Congresso Internacional de Letras. UFMA/Campus III Bacabal. Agosto de 2018. Aqui

PINTO, Jorge Alves et al . The Tenant of Wildfell Hall: um estudo sobre o moralismo cristão no romance de formação de Anne Brontë. VII ENLIJE. Universidade Federal de Campina Grande. Aqui

SIMINO, Denise Martins. A violência contra a mulher no romance a senhora de Wildfell Hall de Anne Brontë .Trabalho de Conclusão de curso. Universidade de Brasília. Brasília. 2020. Aqui

Referências

  1. SIMINO, Denise Martins. A violência contra a mulher no romance a senhora de Wildfell Hall de Anne Brontë .Trabalho de Conclusão de curso. Universidade de Brasília. Brasília. 2020 ↩︎
  2. CAMPANA, Crislaine Aline. A irmã silenciosa: Anne Brontë e a escrita de autoria feminina na Inglaterra do início do século XIX. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 2017. p. 41. ↩︎
Data: 1848
Origem: Inglaterra
Autor: Anne Brontë

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