Alice Rahon

Alice Rahon nasceu em junho de 1904 e foi uma poetisa e pintora francesa. Autora de livros de poemas como À même la terre e Sablier de Femme couchée, Alice Rahon foi uma das varias artistas relacionadas ao grupo surrealista que floresceu na primeira metade do século XIX. Wolfgang Paalen, seu marido por muitos anos, foi pintor e escritor e também se integrou às atividades dos surrealistas durante as décadas de 30 e 40. O início da Segunda Guerra Mundial fez o casal, que então viajava pelo México, se instalar no país latino e postergar o retorno à Europa.

Foi ali que Rahon deu início à sua atividade de pintura e executou grande parte de sua obra em tela. Seu estilo varia entre o abstrato, o geométrico e o representacional, com o uso de uma ampla paleta de cores e tons que variam dos mais sóbrios aos mais iluminados. Os temas trabalhados por Alice Rahon foram muitos. Entre eles os animais (domésticos ou não) e as culturas e povos nativos do México. 

______________________________________________________________________________________________

Infância e juventude

Seu nome completo de nascença era  Alice Marie Ivonne Philippot. Ela nasceu em Chenecey-Bouillon (região de Fránche-Comté) em 1904 mas cresceu em Paris. Seu pai era um empregado de hotel e sua mãe, cozinheira. Ainda na infância, Alice sofreu um acidente que resultou em uma fratura do quadril. Ela então foi obrigada a permanecer de repouso por longos períodos e durante toda a sua vida a lesão lhe traria complicações.1

Seu primeiro contato com o surrealismo se deu por meio de seu primeiro marido, Woolfgang Paalen, que ela conheceu em 1931. Os dois viveram juntos em Paris, no bairro boêmio de Montparnasse até se casarem em 27 de março de 1934. Nessa época sua obra poética se centrava em temas como a natureza e era pré-histórica. André Breton chegou a ler seus poemas durante algumas reuniões surrealistas e sua coletânea  À même la terre foi publicada em 1936.

Com um desenho de Yves Tanguy, o livro foi editado trazendo o nome de casada da poetisa, Alice Paalen. Sua viagem à Índia, rendeu outra obra, Sablier couché (ilustrado por Juan Miró)2 cujo titulo original Le Sablier de la Femme couchée foi emprestado e retrabalhado a partir de um dos trabalhos de Breton de mesmo nome. 

Foto e autorretrato de Alice Rahon
Autorretrato (1951) de Alice Rahon, leiloado pela Sotheby’s, e foto da artista. Fonte: alicerahon.org

A partir de 1934, Alice passou a frequentar com sua grande amiga Valentine Penrose aulas de filosofia Hindu e sânscrito que a então companheira de Roland Penrose acompanhava já havia dois anos. Juntamente com Wolfgang, Alice e Valentine liam e discutiam escritos como o Bhagavad Gita. Os três passaram o inverno de 1934/1935 juntos no château Le Pouy que Valentine e Roland haviam adquirido na Gasconha. Foi nessa ocasião que o trio começou a planejar uma viagem à Índia.

Segundo Whitney Chadwick também foi a partir do inverno daquele inverno que Alice e Valentine começaram a se relacionar romanticamente.3 No ano seguinte, 1936, Valentine Penrose fez sua terceira viagem à Índia, sozinha, enquanto os Paalens permaneceram na Europa, já assombrada pelo espectro da Segunda Guerra Mundial.

Nesse ano, Alice teve um curto e conflituoso romance com o pintor Pablo Picasso. Em 1937, Alice e Valentine Penrose embarcaram em uma viagem para a Índia, muito antecipada por Valentine. Bissexual, Alice Rahon iria se relacionar ao longo de sua vida com a escritora Elizabeth Smart e a colega de profissão Sonja Sekula. Seu último livro de poesia, Noir Animal, foi escrito nos meses que precederam o início da Segunda Guerra. 

A Mudança de Alice Rahon para o México

Durante a organização da exposição Mexique organizada em Paris em 1939, Alice conheceu Frida Kahlo e as duas se tornaram amigas. As duas se reencontraram alguns meses depois, quando Paalen e Rahon foram ao México após uma viagem pelo Canadá e o Alaska. Ali, o casal, junto de Eva Sulzer, teve contato com a arte e cultura indígenas de diversos povos. Consigo, o casal trouxe obras de arte da Europa que seriam expostas na Exposição Internacional do Surrealismo da Galeria de Arte Mexicano de 1940. O início da Segunda Guerra Mundial fez com que o casal não retornasse para o velho continente e se instalasse de vez em território americano. 

Na Cidade do México, o casal viveu em San Ángel, próximo do estúdio de Diego Rivera. Inicialmente, Alice Rahon precisou de tempo para se aclimatar no país que passaria a viver por toda vida.4 Em 1944 aconteceu sua primeira exposição no México na Galería de Arte Mexicano. Com 32 pinturas e uma série de desenhos intitulados “Cristais do espaço”. Na ocasião, Rahon já deixou marcado seu interesse pela cultura nativa com a obra Ville Aztèque au soleil levante.

Dois anos mais tarde, em sua segunda exposição mexicana na mesma instituição, foram três obras cujos títulos faziam referência não só às civilizações indígenas antigas mas também à paisagem mexicana: Valle de México, Tormenta sobre Zempoala e El cenote. A partir dos anos 50, os temas indígenas e do México contemporâneo estariam presentes em várias de suas produções.5

Quadro Balada para Frida feito por Alice Rahon para sua amiga Frida Kahlo
Balada para Frida (1956) pintado por Alice em homenagem à Frida Kahlo. Fonte: MeT

Entre 1942 e 1944, ela não apenas pintou como também trabalhou na publicação de Dyn, publicação fundada pelo marido em parceria com César Moro. Em 1944 ocorreu sua primeira exposição, na Galeria de Arte Mexicano na Cidade do México. A essas se seguiram outras em Nova Iorque e Los Angeles, o que inclui a célebre 31 Women, organizada por Peggy Guggenheim em sua galeria Art of this Century.  Posteriormente, o trabalho da artista ainda desfrutou de uma exposição solo na mesma Art of this Century.

Na ocasião, cerca de 30 de suas telas foram expostas, o show porém não foi alvo de praticamente nenhuma atenção da mídia na época.6 Ao longo das décadas seguintes, seu trabalho seria exposto em diversas galerias do México e do exterior.7

De finais dos anos 1950 adiante, Alice Rahon faria uma série de retratos de pessoas importantes de sua vida que já haviam falecido. Entre os homenageados estão seu ex-marido Wolfgang Paalen, de quem ela havia se divorciado em 1947, André Breton. Para Frida Kahlo, Alice dedicou uma série de obras chamada La balada de Frida Kahlo

Na década de 50, Alice Rahon já desfrutava de um considerável reconhecimento, de modo que mesmo Diego Rivera reconhecia seu trabalho ao lado de outras artista de prestígio da época: “México tem a boa sorte de que entre nós vivem três mulheres pintoras as quais indubitavelmente estão entre as maiores artistas mulheres do mundo: Remedios Varo, ah, como eu gosto da pintura dessa mulher! Leonora Carrington e Alice Rahon.”8 

Morte e Legado 

Em 1967, Alice Rahon abre uma exposição na Galeria Pecannis. Na ocasião ela sofreu mais uma queda e de novo se vê obrigada a um período de imobilidade. A partir de então a artista tornou-se  cada vez mais reclusa. Em 1975, ela ainda expõe mais uma vez na Galeria de Arte Mexicano. Em 1986, um ano antes de falecer, seu trabalho foi tema de uma exposição retrospectiva na Bellas Artes do México. Ela faleceu em setembro de 1987. 

No Brasil, a obra de Alice Rahon foi uma das que compôs a grande exposição Frida Kahlo: Conexões entre Mulheres Surrealistas Mexicanas organizada pelo Instituto Tomie em 2016. Além de obras de Frida e Alice, a exibição contou com quadros de Leonora Carrington, María Izquierdo e Remedios Varo, além de fotos de Lola Alvarez Bravo.

Artigos Relacionados

Frida Kahlo

Remedios Varo

Leonora Carrington

Bibliografia

CHADWICK, Whitney. Women Artists and the Surrealist Movement. Boston: Little, Brown, and Company, 1985.

CHADWICK, Whitney. Farewell to the Muse: Love, War and the Women of Surrealism, London: Thames & Hudson, 2017.

DEFFEBACH, Nancy. “Alice Rahon: de poetisa francesa a pintora mexicana,” in  Alice Rahon: Una surrealista en México (1939-1987) (Mexico City: Museo de Arte Moderno and Instituto Nacional de be Bellas Artes, 2009).

ESTEVEZ GÓMES, Diana Yuriko. El Surrealismo en Mexico: Alice Rahon, Remedios Varo y Leonora Carrington. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Autonoma do Mexico. 2005. 

WILTS, Martine Geeret. Towards an Inclusive Art History: the Canonization of Female Artists in Surrealism. Leiden University. 2017.

Site no Instituto Tomie Ohtake

Site dedicado à Alice Rahon

Referências

  1. CHADWICK, Whitney. Farewell to the Muse: Love, War and the Women of Surrealism, London: Thames & Hudson, 2017. p. 23. ↩︎
  2. ESTEVEZ GÓMES, Diana Yuriko. El Surrealismo en Mexico: Alice Rahon, Remedios Varo y Leonora Carrington. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Autonoma do Mexico. 2005. p. 61. ↩︎
  3. CHADWICK, Whitney. Farewell to the Muse: Love, War and the Women of Surrealism, London: Thames & Hudson, 2017. p. 50. ↩︎
  4. DEFFEBACH, Nancy. “Alice Rahon: de poetisa francesa a pintora mexicana,” in  Alice Rahon: Una surrealista en México (1939-1987) (Mexico City: Museo de Arte Moderno and Instituto Nacional de be Bellas Artes, 2009). p. 181-182. ↩︎
  5. DEFFEBACH, Nancy. “Alice Rahon: de poetisa francesa a pintora mexicana,” in  Alice Rahon: Una surrealista en México (1939-1987) (Mexico City: Museo de Arte Moderno and Instituto Nacional de be Bellas Artes, 2009). p. 185. ↩︎
  6. WILTS, Martine Geeret. Towards an Inclusive Art History: the Canonization of Female Artists in Surrealism. Leiden University. 2017. p. 35. ↩︎
  7. Página cronologia no site alicerahon.org↩︎
  8. KAPLAN, Janet. Unexpected Journeys: the art and life of Remedios Varo. Abbeville Press. New York. 1994. p.133. ↩︎
Nascimento: Junho de 1904
Falecimento: Setembro de 1987
Origem: França
Ocupação: Poetisa e pintora

Busque no portal urânia