Consolação é uma pintura feita por María Izquierdo em 1933.
No início do ano de 1937, cerca de 30 acuarelas de María Izquierdo foram levadas por Artaud para a exposição da artista na Galerie Van den Berg in Montparnasse. A grande parte dessas obras não seria comprada por colecionadores e nem retornaria ao México: a internação de Artaud em uma instituição ainda no ano de 1937 levou ao desaparecimento de muitas das aquarelas.
O mais provável é que muitas tenham sido destruídas durante a Segunda Guerra Mundial, mas não se descarta que, ao menos algumas, permanecem até hoje em coleções privadas ou estejam mesmo esquecidas em algum depósito. Segundo Terri Geis, uma dessas obras que de fato conseguiu retornar de Paris é o quadro Consolação.
Uma das filhas de Izquierdo declarou que a exposição de Paris tinha dois objetivos principais. O primeiro, mais claro, era o de tornar o trabalho de Izquierdo conhecido na Europa. O segundo, pessoal, era o de utilizar os recursos da venda dos quadros para custear uma internação de Artaud em uma clínica de reabilitação.1
Um dos temas mais representados por María Izquierdo é o México pós revolução e o lugar de mulheres mexicanas nessa nova realidade. Cemitérios, figuras femininas que aparentam angústia e pesar são compostas em tons terrosos e sóbrios.
Em suas telas, Izquierdo faz um contraponto à celebração ao México presente em muitas obras dos chamadas Três Grandes, os pintores muralistas empregados pelo governo Mexicano no projeto de forjar uma nova imagem de nação: Diego Rivera, David Alfaro Siqueiros e José Clemente Orozco. Consolação é um exemplo da obra de Izquierdo.
Durante os anos da Revolução Mexicana calcula-se que mais de 1 milhão de vidas foram ceifadas. Tal perda, luto e ausência podem ser interpretados em Consolação e outros trabalhos como Alegoria da Liberdade e Alegoria do Trabalho. Para Geis Terri essa pinturas “são como pequenos cenotáfilos – monumentos para os mortos que estão perdidos ou que jazem em outro lugar“.2Para o poeta José Gorostiza, que tratou da obra da artista, “ruínas e mulheres operam como uma tela por trás da qual María Izquierdo descreve poderosamente sua angústia, seu medo e sua solidão”.3

Consolação foi encontrada junto com outras obras e materiais dentro de uma coleção chamada “art brut“, que em sua origem pertencia não apenas à Artaud mas a outros artistas envolvidos mais ou menos com os surrealistas como Pierre Mabille, George Sadoul, Roger Blin e Roger Caillois. Entre os trabalhos dessa “coleção” estavam uma aquarela de uma paciente psiquiátrico alemão, um manuscrito de Artaud e um desenho em tinta do paciente psiquiátrico francês do século XIX Emile Hodinos.
Terri Geis se pergunta em seu artigo: “esse colecionador propositalmente aproximou a arte de uma mulher, não europeia com a arte de pacientes institucionalizados ou essa classificação aconteceu simplesmente devido às qualidade cruas, naïve e reveladoras de Consolação, que são qualidades comuns da art brut?“.4 A pesquisadora termina seu artigo citando um excerto do texto de Horacio Amigorena, escrito para o catálogo da exposição Kahlo‘s Contemporaries, na qual Consolação foi exposta:
“O quadro de Maria Izquierdo é uma esfinge. Foi chamada de Consolação desde que foi vendida em um leilão em Nova York. Mas não nos oferece qualquer consolação. As figuras nela, arrancadas da selva, modeladas em cores terrosas, discretamente atraem os que passam […]”5
Localização atual de Consolação
Não há qualquer indício que María Izquierdo tenha pensado nesse ou outro título para sua aquarela. O nome foi dado cerca de 60 anos após sua produção, quando o trabalho passou pela casa de leilões Sotheby’s em 1993 e foi vendido em Nova York.6
Bibliografia
GEIS, Terri. The Voyaging reality: María Izquierdo and Antonin Artaud, Mexico and Paris. Paper of Surrealism. Issue 4. Winter 2005. Disponível no academia.edu.
Referencias
- GEIS, Terri. The Voyaging reality: María Izquierdo and Antonin Artaud, Mexico and Paris. Paper of Surrealism. Issue 4. Winter 2005. p. 8. ↩︎
- GEIS, Terri. The Voyaging reality: María Izquierdo and Antonin Artaud, Mexico and Paris. Paper of Surrealism. Issue 4. Winter 2005. p. 4. ↩︎
- GEIS, Terri. The Voyaging reality: María Izquierdo and Antonin Artaud, Mexico and Paris. Paper of Surrealism. Issue 4. Winter 2005. p. 5. ↩︎
- GEIS, Terri. The Voyaging reality: María Izquierdo and Antonin Artaud, Mexico and Paris. Paper of Surrealism. Issue 4. Winter 2005. p. 10. ↩︎
- GEIS, Terri. The Voyaging reality: María Izquierdo and Antonin Artaud, Mexico and Paris. Paper of Surrealism. Issue 4. Winter 2005. p. 10. ↩︎
- GEIS, Terri. The Voyaging reality: María Izquierdo and Antonin Artaud, Mexico and Paris. Paper of Surrealism. Issue 4. Winter 2005. p. 4. ↩︎