José Clemente Orozco foi um pintor e gravurista mexicano nascido em 1883. Empregado pelo governo do México no período pós-revolucionário, ele ficou conhecido como um dos Três Grande ao lado de Diego Rivera e David Siqueiros. Linhas e contornos fortes e marcados, movimentos rápidos e amplo uso de tons escuros são marcas do seu estilo.
A arte de Clemente Orozco se diferencia principalmente no tratamento melancólico, desromantizado e mesmo duro que deu às temáticas da Revolução Mexicana, da história nacional, da opressão e da influência estrangeira no México. Murais seus podem ser encontrados em seu país natal, mas também nos Estados Unidos.
Ao longo de sua carreira, Clemente Orozco nunca abandonou a pintura a óleo de telas e também se dedicou à produção de litografias. Orozco morreu repentinamente em 1949 de falência cardíaca.
Infância e formação de José Clemente Orozco
José Clemente Orozco nasceu em 23 de novembro de na cidade de Guzman, sul de Guadalajara. Ainda jovem ele iniciou seus estudos artísticos na Academia de San Carlos entre 1906 e 1914. Ali ele conheceu David Alfaro Siqueiros, que seria seu colega de ofício anos mais tarde. Apesar dessa iniciação às artes, Clemente Orozco acabou estudando engenharia agrícola. Durante uma aula prática, o artista sofreu um acidente e perdeu a mão esquerda. Após o que ele retornou à pintura.

Com o início da revolução mexicana em 1910, Clemente Orozco passou a trabalhar como ilustrador para a revista Vanguardia, dirigida pelo Dr. Atl (Geraldo Murilo). O pintor também colaborou para El Ahuizote. Sua produção da época engloba ilustrações, pinturas, desenhos e caricaturas que geralmente têm como tema a Revolução em curso. Orozco acompanhou de perto o desenrolar do processo revolucionário, os conflitos e destruição que tão comumente acompanham tal fenômeno.
Uma vez em São Francisco, José Clemente trabalhou fazendo cartazes para cinema. Na época o pintor morava com outro artista chamado Fernand Galvan e ambos viviam com seus ganhos modestos. Em 1919, Orozco retornou ao México. Em 1922, Orozco recebeu uma de suas primeiras encomendas do governo.
Na Escuela Preparatoria, ele pintou uma série de murais como A Trindade, Maternidade e Os Aristocratas. Nos anos seguintes, até 1926 ele trabalhou na Escuela Preparatória entre outros motivos porque alguns alunos, mais conservadores, vandalizaram as obras. Sobre a arte mural, Clemente Orozco afirmou:
“Pintura mural – quer dizer – sempre a vista do povo, pintura que nem se compra nem se vende, que fala a todos que passam, às vezes com uma linguagem clara, outras vezes obscura … É para o povo. É para todos“.1
Uma década depois de sua primeira estadia, Clemente Orozco retornou aos Estados Unidos em 1927. Ele só retornaria ao México em 1934. Seu plano era organizar uma exposição de seus trabalhos feitos sobre a Revolução Mexicana. Denominado Os Horrores da Revolução (1926-1928), as imagens tratavam da Revolução Mexicana em sua faceta mais crua e obscura: deslocamentos forçados, destruição, estupros e execuções sumárias são algumas das cenas pintadas por Orozco.
O pintor teve dificuldade em encontrar público para tal material. Anna Indych destaca que a série Horrores foi concebida, desde o início, para ser vendida no exterior. Em Horrores estilo é explícito, ainda mais que aquele que Orozco desenvolvia em seus murais. Mais tarde, quando a exposição da série foi organizada na galeria Marie Sterner, o evento recebeu o título menos polêmico de Mexico in Revolution.
Mesmo assim, nada foi vendido. Sua agente nos Estados Unidos, Alma Reed, então, sugeriu ao artista algumas modificações de modo que as imagens ficassem menos chocantes e perturbadoras. Apenas após tais alterações e a transferências das imagens para litografias é que a Horrores encontrou público. Algumas gravuras são comercializadas até hoje por casas de leilões como a Sotheby’s.2

Nos Estados Unidos os trabalho de José Clemente Orozco incluem os murais feitos na Pomona College (1930), na Darthmouth University (1932-1934). Sobre o primeiro, Rosa Tugeon comenta que nessa obra, Prometeu, o pintor:
“decidiu seguir sua convicção profunda e evitou pintar uma obra que seria venerada unicamente por sua beleza. Ele pinta o destino trágico da humanidade, e foi bem acolhido pelos críticos e pelo público estadunidense“.3
Entre suas principais obras murais desse período estão aquelas feitas no Palácio de Bellas Artes (chamada Catarse), no Palácio do Governo e no Hospício Cabañas em Guadalajara entre 1938 e 1939.
Estilo
O estilo de Clemente Orozco é marcadamente cru, pesado e realista do que os seus colegas muralistas e artistas. Nas palavras de Joyce Bailey, “no corpo de seu trabalho, ele [Orozco] lidou com as realidade que com frequência se tornam questões políticas delicadas. Suas litogravuras e pinturas recorrentemente expressam indignação com a questão dos índios, a destruição desenfreada da guerra, discriminação social, injustiça, liberdade de impressa, e o capitalismo exploratório”.4
Para o pintor, a Revolução Mexicana, como qualquer outra ruptura da magnitude de uma revolução, engendrou um sem número de violências e arbitrariedades. A cobertura de Orozco da Revolução o fez menos propenso a romantizações e suas obras raramente retratam os acontecimentos da década de 1910 , e personagens neles envolvidos, de maneira mítica e heroica. Sobre sua obra, o poeta mexicano Otávio Paz declarou:
“Rivera e Siqueiros foram homens do partido, armados de programas e esquemas estéticos e políticos; Orozco, mais livre e puro, anarquista e conservador ao mesmo tempo, foi um verdadeiro rebelde“.5
A última década de vida de Clemente Orozco foi de atividade e trabalho. Em 1945, quatro anos antes de falecer, Clemente Orozco fez coro ao rival e colega Diego Rivera ao boicotar a encomenda de mural oferecida à pintora María Izquierdo. Defendendo que a artista ainda era jovem e inexperiente, Orozco, fazendo jus ao “conservador” que Otávio Paz lhe rotularia, impediu que Izquierdo pintasse as paredes do então Palácio del Ayuntamiento. A pintora vinha de uma viagem pela América do Sul, onde expôs seu trabalho em algumas ocasiões, além de ter iniciado seus estudos quase vinte anos antes.6
Em 1947 ele foi responsável pela capa do livro A Pérola, de John Steinbeck.
Em 1949, José Clemente Orozco morreu de falência cardíaca. O artista está sepultado no Panteón de Dolores, na Cidade do México.
Artigos Relacionados
Bibliografia
CABRERA, Daniel Avechuco. Mariano Azuela y José Clemente Orozco en diálogo: apuntes sobre las ilustraciones de la primera edición en inglés de Los de abajo. Revista Valenciana, ISSN impresa: 2007-2538, ISSN electrónica: 2448-7295, núm. 23, enero-junio de 2019, pp. 29-58. Aqui.
BAILEY, Joyce Waddell. Jose Clemente Orozco (1883-1949): Formative Years in the Narrative Graphic Tradition. Latin American Research Review, 1980, Vol. 15, No. 3 (1980), pp. 73-93. Disponível no Jstor.
COFFEY, Mary K. Angels and Prostitutes: José Clement Orozco’s “Catharsis” and the Politics of Female. The New Centennial Review, fall 2004, Vol. 4, No. 2, phosphorescent
memories (fall 2004), pp. 185-217. Disponível no Jstor.
COFFEY, Mary K. José Clémente Orozco’s Dancing Indians: Performing Mexicanness for the Trans-American Market. The Art Bulletin , DECEMBER 2020, Vol. 102, No. 4 (DECEMBER 2020), pp. 90-120. Disponível no Jstor.
ECHAVARRÍA, Salvador. José Clemente Orozco in Guadalajara. Artes de México, 1967, No. 94/95, GUADALAJARA (1967), pp. 104-121. Disponível no Jstor.
INDYCH, Anna Made for the USA: Orozco’s Horrores de la Revolución. Anales del Instituto de Investigaciones Estéticas, vol. XXIII, núm. 79, otoño, 2001, pp. 153-164. Aqui.
TURGEON, Rosa. Le Muralisme et la Reconstruction de l’Imaginaire National Mexicain. Maîtrise en sociologie. Université du Québec à Montréal. 2010. Aqui.
Referências
- ECHAVARRÍA, Salvador. José Clemente Orozco in Guadalajara. Artes de México, 1967, No. 94/95, GUADALAJARA (1967), pp. 104-121. p. 106. ↩︎
- INDYCH, Anna Made for the USA: Orozco’s Horrores de la Revolución. Anales del Instituto de Investigaciones Estéticas, vol. XXIII, núm. 79, otoño, 2001, pp. 153-164. ↩︎
- TURGEON, Rosa. Le Muralisme et la Reconstruction de l’Imaginaire National Mexicain. Maîtrise en sociologie. Université du Québec à Montréal. 2010. p. 80. ↩︎
- BAILEY, Joyce Waddell. Jose Clemente Orozco (1883-1949): Formative Years in the Narrative Graphic Tradition. Latin American Research Review, 1980, Vol. 15, No. 3 (1980), pp. 73-93. p. 79. ↩︎
- TURGEON, Rosa. Le Muralisme et la Reconstruction de l’Imaginaire National Mexicain. Maîtrise en sociologie. Université du Québec à Montréal. 2010. p. 88. ↩︎
- Artigo sobre María Izquierdo. ↩︎